O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro traz a exposição Tutto Fellini, com cerca de 400 itens reveladores do universo do cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993). Fotografias de bastidores, desenhos feitos pelo próprio diretor, revistas de época, cartazes, entrevistas e trechos de filmes compõem a mostra, que exibe muitos documentos inéditos. Com curadoria de Sam Stourdzé, diretor do Musée de l'Elysée, em Lausanne, que fica na Suíça.
Paralelamente à exposição, haverá uma mostra de filmes de Fellini no cinema do IMS-RJ. Serão exibidos mais de 20 filmes, entre eles seu primeiro longa Mulheres e luzes (1950), e também As noites de Cabíria (1957), Os palhaços (1970), A estrada da vida (1954), Julieta dos espíritos (1965), Abismo de um sonho (1952), Ginger e Fred (1986), Oito e meio (1963).
Ao longo da exposição Tutto Fellini, o IMS-RJ promoverá toda sexta-feira, às 14h, a apresentação de um filme comentado e com entrada franca.No dia 16 de março, José Carlos Avellar, crítico e curador da programação de cinema do IMS, comenta As noites de Cabiria. Já no dia 23 de março, Avellar e Teresa Azambuja falarão após a exibição de Tobby Dammit (1968), episódio de Histórias extraordinárias, que conta com dois outros episódios dirigidos por Roger Vadim e Louis Malle. No dia 30/3, Avellar e Teresa comentarão As tentações do dr. Antonio (episódio de Boccaccio 70). Além disso, no dia 17 de março (sábado), às 16h, o professor de cinema Hernnani Heffner comentará o filme Ensaio de orquestra (1978). Esta última sessão será paga.A programação completa da mostra de cinema pode ser vista no site www.ims.com.br
Sobre a exposição Tutto Fellini:
Construída como uma espécie de laboratório visual, a mostra favorece o diálogo entre imagens estáticas e em movimento Seguindo um percurso pontuado pelas obsessões de Fellini, a exposição investiga o século XX do diretor: o século do cinema, claro, mas também o da imprensa, das mídias, da televisão, da publicidade, ou seja, das imagens. A montagem não segue um padrão cronológico, nem filmográfico, e sim temático. Dessa forma, Tutto Fellini é dividia em quatro núcleos:
1. Cultura popular: a mostra exibe seus primeiros trabalhos como caricaturista, iniciado quando, no final dos anos 1930, Fellini deixa Rimini, sua cidade natal, e parte para Roma. Desenha para jornais satíricos como Marc’Aurelio, 420 e Travaso. Passa a escrever roteiros para vários diretores, entre eles Roberto Rosselini. Em 1950, co-dirige com Alberto Lattuada seu primeiro filme, Mulheres e luzes. Para criar o seu segundo longa, Abismo de um sonho (1952), Fellini se apropria da fotonovela. Esse e outros elementos da sociedade italiana no pós-guerra, que sempre permearam a obra de Fellini, são encontrados nesse núcleo da mostra: os desfiles religiosos ou políticos; os jantares (e a sátira ao excesso de espagueti); o circo, que pautou sua produção desde Mulheres e Luzes até Os palhaços (1970); a mídia – para seus filmes, Fellini produzia peças publicitárias que faziam uma paródia à sociedade italiana, como os outdoors de Ginger e Fred (1986); quadrinhos – a exposição exibe uma fotonovela com Marcello Mastroianni interpretando o papel de Mandrake, o Mágico (inspirado na história de Lee Falk) e também a HQ A viagem de Giuseppe Mastorna, projeto antigo do diretor para um filme nunca terminado publicado na revista Ciak, na década de 1990.
O público também poderá conferir fotos de anônimos que se candidatavam aos papeis de seus filmes. Fellini também guardou imagens de uma jovem atriz italiana que, procurando sucesso, fez um striptease no Rugantino, casa noturna badalada da época. As fotos foram publicadas em vários jornais e inspiraram o cineasta a escrever a cena em que atriz Nadia Gray tira a roupa em A doce vida (1960). O filme aborda, entre outros assuntos, o nascimento das publicações sobre celebridades. E é a partir dele que se passa a usar o termo paparazzi, já que o fotógrafo Paparazzo (Walter Santesso), que acompanhava o repórter Marcello Rubini (Marcello Mastroianni), perseguia os famosos para conseguir boas fotos.
2. Fellini em ação: explora o trabalho de Fellini por trás das câmeras. São imagens que revelam sua relação com sua equipe de cenógrafos; com o Studio 5, da Cinecittá, onde filmou a maior parte de suas produções; a escolha da trilha sonora e sua célebre parceria com Nino Rota; a direção de arte – Fellini trabalhou por muitas vezes com Piero Gherardi, com quem ganhou dois Oscars –; e o roteiro. Mesmo com muito improviso nas filmagens, Fellini era rodeado por uma equipe de grandes roteiristas, que o acompanharam por muito tempo, como Ennio Flaiano e Tullio Pinelli. Em 1956, o então poeta que se tornaria grande cineasta Pier Paolo Pasolini trabalhou no roteiro de Noites de Cabíria.
3. A cidade das mulheres: serão apresentadas ao público os vários tipos de mulher presentes nos filmes de Fellini. Prostitutas, mães, femme fatales, ninfomaníacas, etc. Além disso, ganharão homenagens as atrizes que se tornaram divas, como Anita Ekberg (de A doce vida, Boccaccio 70, Os palhaços e Entrevista), Anna Magnani (Roma de Fellini) e Giulietta Masina (Mulheres e luzes, Abismo de um sonho, A estrada da vida, A trapaça, Noites de Cabíria, Giulietta dos espíritos e Ginger e Fred), com quem Fellini se casou em 1943.
4. A invenção biográfica: nesta seção o público poderá rever imagens das visões de alguns personagens dos filmes de Fellini (como as que Snàporaz, alterego do diretor interpretado por Marcello Mastroianni, tem no filme Cidade das Mulheres), além de conhecer o Livro dos Sonhos, reunião de desenhos feitos por Fellini durante 30 anos (entre 1960 e 1990) a partir de seus sonhos.
Mais Federico Fellini
Aos 19 anos, Fellini partiu de Rimini para conquistar Roma. Iniciou a carreira como caricaturista de jornais satíricos, mas já nos anos 1940 começou a escrever e colaborar com a redação de vários roteiros de filmes. Amigo de Roberto Rossellini, foi seu assistente em Roma, cidade aberta (1945), antes de começar a atuar como diretor, em 1950, com Mulheres e luzes. O Oscar obtido por A estrada da vida (1954) lhe trouxe o reconhecimento internacional. Quando estava com 40 anos, Fellini provocou escândalo com A doce vida (1960). A Igreja, que até então o apoiava – a ponto de considerá-lo um cineasta católico –, ficou indignada com o filme, que julgou decadente e blasfemo. Homem de espírito livre, Fellini seguiu sua carreira longe de correntes ou escolas. Abalou as regras da narrativa, desconstruiu a noção de enredo, repensou o cinema. Oito e meio (1963) representou uma nova ruptura. Suas interrogações acerca da criação e a reflexão sobre o cinema o levaram a ultrapassar as fronteiras do real para explorar o mundo do imaginário. As lembranças de infância, o inconsciente e os sonhos passaram então a fazer parte de sua obra. Além de manter sua biografia pessoal como tema recorrente de seu cinema, Fellini não hesitava mais em interpretar a si mesmo nos filmes.
Tutto Fellini
Abertura: 10 de março de 2012, às 17h
Exposição: de 11 de março a 17 de junho de 2012
De terça a sexta, das 13h às 20h
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Entrada franca
Classificação livre
De terça a sexta, às 17h, visita guiada pelas exposições. Ponto de encontro na recepção.
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400.
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500
Postado por Tais Carvalho com dados da assessoria IMS.