O filme dirigido por Abel Ferrara faz um interessante recorte de imagens de arquivo, entrevistas documentais e ficção para criar um perturbador e realista retrato da Cidade de Nápoles, uma das mais violentas da Itália dominada pela máfia Camorra.
A opção do diretor por essa estrutura dá outro ritmo ao documentário. Mas ainda sim o coração do filme são as entrevistas, as pessoas envolvidas com a violência, o tráfico e aqueles que lutam contra esse ciclo vicioso violência/pobreza. O curioso é que assistindo ao filme identificamos problemas de qualquer grande metrópole. Os depoimentos das presidiárias poderiam ter sido filmados nas penitenciárias cariocas que o resultado seria discursos semelhantes.
Imagens em preto e branco de um antigo documentário procuram as raízes do mal que assola a cidade de Nápoles, enquanto políticos da cidade fazem seus discursos. Todos tentam explicar como a cidade chegou a esse ponto. A resposta não é clara, mas o inicio de uma reflexão é necessária.
Mas há esperança também. O diretor acompanha pessoas que trabalham em centros de reabilitações, um curiosamente chamado Diego Armando Maradona. Uma das diretoras desses centros diz: “Não devemos pensar no corpo estendido no chão, mas no sonho daquela pessoa, que morreu”. O sonho de uma vida melhor que morre nos bairros de Nápoles e o que fazer e como fazer para recuperar a dignidade humana.
Abel Ferrara é neto de napolitanos e passou parte de sua infância e juventude no Bronx. Desse laço Ferrara herdou uma religiosidade forte típica Italiana, presente em imagens do filme e a tendência investigativa pela violência e sobrevivência em um centro urbano decadente.
“Napoli, Napoli, Napoli” é um excelente e atual filme. Em tempos de ataque a cidade do Rio de Janeiro é urgente a discussão sobre o tráfico, a violência e a corrupção. O filme estréia em momento oportuno nos cinemas. Merece ser visto, estudado e discutido.
Napoli, Napoli, Napoli (Napoli, Napoli, Napoli)
Itália, 2009, 102 minutos, Documentário, Drama
Diretor: Abel Ferrara
Elenco: Luigi Maria Burruano, Peppe Lanzetta, Shanyn Leigh, Luca Lionello, Marco Macor, Ernesto Mahieux
Postado por Tais Carvalho
Este texto também foi publicado no Cinema na Rede
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